Narrado em terceira pessoa, O Moleque Ricardo aborda a adolescência do protagonista que leva o nome da obra, personagem também recorrente do Ciclo da Cana-de-Açúcar de José Lins do Rego. Anteriormente, Ricardo também aparece em Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934) e Usina (1936) – sendo que ele é o centro da história do último, que explora sua vida adulta. Repleto de transições, tanto de forma econômica quanto social, O Moleque Ricardo tem uma narrativa imersiva e ambientação impecável, como de costume nos livros de José Lins do Rego. A jornada de Carlinhos começa aos seus 16 anos, quando ele se sente seduzido pelo apito do trem para a Capital. Sem conseguir evitar sua vontade de conhecer o mundo, o jovem muda-se para Recife e deixa sua vida no engenho de Santa Rosa – onde nasceu e cresceu. Regado por impetuosidade e experimentação, o menino tem um grande choque de realidade. Apesar de ser uma obra com forte regionalismo, a experiência de Carlinhos com preconceito racial e sua vivencia na miséria é retratada de forma certeira, explorando os nuances complexos de uma vivência extremamente comum para o povo brasileiro, naquela época e hoje. Como resultado, a jornada de Ricardo se transforma em um conto atemporal sobre o sentimento deslocador perpetuado pelo ato de crescer e amadurecer. A edição da Global, que tem capa ilustrada por Mauricio Negro, conta com um texto de apresentação de Regiane Matos, doutora em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/Fundação Getúlio Vargas. É também autora da tese “O Provinciano Cosmopolita: redes internacionais e sociabilidade literária e as crônicas de viagem de José Lins do Rego nos anos 1940 e 1950”.
José Lins do Rego
Quarto ocupante da Cadeira 25, eleito em 15 de setembro de 1955, na sucessão de Ataulfo de Paiva e recebido pelo Acadêmico Austregésilo de Athayde em 15 de dezembro de 1956. José Lins do Rego (José Lins do Rego Cavalcanti) foi romancista e jornalista. Nasceu no Engenho Corredor, Pilar, PB, em 3 de junho de 1901, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de setembro de 1957. Filho de João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti, fez os primeiros estudos no Colégio de Itabaiana, PB, no Instituto N. S. do Carmo e no Colégio Diocesano Pio X de João Pessoa. Depois estudou no Colégio Carneiro Leão e Osvaldo Cruz, no Recife. Desde então revelaram-se seus pendores literários. É de 1916, o primeiro contato com O Ateneu, de Raul Pompéia. Em 1918, aos 17 anos, José Lins travou conhecimento com Machado de Assis, através do Dom Casmurro. Desde a infância, já trazia consigo outras raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração em geração por pessoas ligadas ao mundo rural do Nordeste açucareiro. Passou a colaborar no Jornal do Recife. Em 1922 fundou o semanário Dom Casmurro. Formou-se em 1923 na Faculdade de Direito do Recife. Durante o curso, ampliou seus contatos com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luís Delgado e Aníbal Fernandes. Sua amizade com Gilberto Freire, na volta em 1923 de uma temporada de estudos universitários nos Estados Unidos, marcou novas influências no espírito de José Lins, através das ideias novas sobre a formação social brasileira. Foi nomeado em 1925 promotor em Manhuçu, MG, lá não se demorando. Casado em 1924 com D. Filomena (Naná) Masa Lins do Rego, transferiu-se em 1926 para a capital de Alagoas, onde passou a exercer as funções de fiscal de bancos até 1930 e fiscal de consumo de 1931 a 1935. Em Maceió, tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco e Carlos Paurílio. Ali publicou o primeiro livro, Menino de engenho (1932), obra que se revelou de importância fundamental na história do moderno romance brasileiro. Além das opiniões elogiosas da crítica, sobretudo de João Ribeiro, o livro mereceu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Em 1933, publicou Doidinho, o segundo livro do “Ciclo da cana-de-açúcar”. Em 1935, já nomeado fiscal do imposto de consumo, José Lins do Rego transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a residir. Integrando-se plenamente no ambiente carioca, continuou a fazer jornalismo, colaborando em vários periódicos com crônicas diárias. Revelou-se, então, por essa época, a faceta esportiva de sua personalidade. Sofrendo e vivendo as paixões desencadeadas pelo futebol, o esporte de sua predileção, foi grande torcedor do Flamengo. Exerceu o cargo de secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos de 1942 a 1954. Romancista da decadência dos senhores de engenho, sua obra baseia-se em memórias e reminiscências. Seus romances levantam todo um sistema econômico de origem patriarcal, com o trabalho semiescravo do eito, ao lado de outro aspecto importante da vida nordestina, ou seja, o cangaço e o misticismo. O autor desejaria que a sua obra romanesca fosse dividida: “Ciclo da cana-de-açúcar”: Menino de engenho, Doidinho, Banguê, Fogo morto e Usina; “Ciclo do cangaço, misticismo e seca”: Pedra Bonita e Cangaceiros; “Obras independentes”: a) com ligações nos dois ciclos: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce; b) desligadas dos ciclos: Água-mãe e Eurídice. Recebeu o Prêmio da Fundação Graça Aranha, pelo romance Menino de engenho (1932); o Prêmio Felipe d’Oliveira, pelo romance Água-mãe (1941), e o Prêmio Fábio Prado, pelo romance Eurídice (1947).
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